A revisão da Norma Regulamentadora nº 1 (NR1) traz uma mudança significativa para o universo corporativo brasileiro.
A partir de maio de 2025, todas as empresas, de qualquer porte ou setor, deverão implementar o Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR), uma ferramenta obrigatória que eleva a gestão de saúde, segurança e bem-estar como pauta estratégica.
Mas o que realmente está em jogo? Muito além de cumprir uma norma, a NR1 representa uma transformação profunda na forma como empresas enxergam sua responsabilidade com os colaboradores, incluindo os desafios emocionais e psicossociais que antes ficavam à margem.
Do Compliance à Cultura Organizacional
Por décadas, a gestão de segurança no trabalho esteve associada a ambientes industriais e operacionais, com foco em riscos físicos, químicos e biológicos.
A NR1 amplia esse escopo, ao incluir riscos psicossociais como prioridade. Pressão excessiva por metas, sobrecarga, falta de reconhecimento e assédio não são mais problemas invisíveis — são questões centrais a serem geridas pelas empresas.
Essa mudança não se limita a grandes indústrias. Setores como educação, serviços, agências de publicidade, entre outros segmentos que possuem profissionais CLTs na equipe, agora precisam mapear riscos, documentar ações preventivas e promover um ambiente de trabalho seguro e saudável. Isso inclui:
- Identificação de riscos psicossociais: avaliar o impacto das jornadas de trabalho, ergonomia e demandas excessivas.
- Documentação e indicadores: relatórios detalhados que demonstrem a mitigação de riscos.
- Mudança de cultura: incorporar saúde e bem-estar à estratégia organizacional, tornando esses temas centrais e não apenas acessórios ou ações pontuais.
Além de atender à legislação, essa abordagem favorece um clima organizacional mais saudável, com redução no absenteísmo e rotatividade, e aumento da produtividade — tudo isso, enquanto reforça o papel social da empresa (o S do ESG).
Oportunidades e Desafios
Cumprir as exigências da NR1 pode parecer desafiador, mas os riscos de ignorá-las são ainda maiores. Não se adequar à norma pode resultar em multas, passivos trabalhistas e danos à reputação.
Porém, mais que evitar punições, a NR1 oferece às empresas a oportunidade de criar um ambiente de trabalho que valoriza a saúde integral dos colaboradores e de repensar novos formatos de trabalho, como explica a Tamara Ginciene, especialista em Compliance e fundadora da Hinz Governance & Business Integrity:
“Um dos maiores desafios das organizações atualmente será garantir a sinergia entre as ações realizadas pelas áreas de Recursos Humanos, Saúde e Segurança do Trabalho, Jurídico/ Compliance para avaliação, gestão e prevenção dos riscos psicossociais, mitigando os riscos à integridade física e mental dos seus colaboradores. O diálogo e a governança adequada das ações conduzidas por essas áreas são fundamentais para a atualização do plano de gerenciamento de riscos para 2025 em razão da conformidade com a NR1.
Mais importante do que apenas políticas escritas, é preciso testar se na prática elas tem funcionado e se eventualmente há necessidade de ajustes de rota e/ou revisão com vistas a efetividade e redução de afastamentos de colaboradores. A análise cruzada dos indicadores das pesquisas de clima organizacional, com os indicadores de afastamentos podem trazer insights relevantes de planos de ação a serem implementados. ”
Tamara Ginciene
Fundadora da Hinz Governance & Business Integrity, Coordinator of Compliance and Anti Corruption Committee da IBRADEMP, Coordenadora Núcleo Maternidade da Compliance Women Committee
E os ganhos e benefícios da adequação a NR1 vão além:
– Um ambiente que promove saúde física e mental gera mais engajamento e retenção.
– Integrar bem-estar e segurança à gestão não apenas melhora a produtividade, mas também constrói uma cultura organizacional resiliente.
– Ao investir em saúde e bem-estar, empresas reforçam seu compromisso com práticas sociais responsáveis (ESG).
Por outro lado, para muitas organizações, adaptar-se à NR1 pode demandar esforços significativos, como investir em infraestrutura, tecnologia, implementação de indicadores e treinamentos. Levantamos todos estes pontos com maior profundidade no e-book: Como se adequar à NR1 e transformar sua cultura organizacional. O desafio é transformar esses requisitos em ações práticas que realmente façam diferença para a vida dos colaboradores.
Como se adequar a NR1 de forma mais estratégica
Tamara agrega à essa visão, explicando e trazendo dicas de como as empresas podem se adequar de uma forma mais estratégica à norma:
“Na área de Recursos Humanos e área de Saúde, Medicina e Segurança do Trabalho é fundamental ter uma análise crítica mais aprofundada dos números de afastamentos e identificar a causa raiz desses afastamentos (redimensionamento de área, relacionamento interpessoal com os gestores) para implementação de planos de ação mais efetivos. Em segundo lugar, o impacto financeiro em decorrência de ações trabalhistas ou fiscalização das autoridades merece destaque, pois observamos um crescente número de ações trabalhistas ao longo dos últimos anos sobre o tema de assédio, burnout e violência no trabalho.
Uma boa prática poderia ser, por exemplo, a implementação de um Comitê multidisciplinar entre essas áreas para avaliação dos indicadores, proposição e deliberação de ações mais efetivas para tratativa da causa raiz das oportunidades identificadas, mitigando riscos reputacionais e perdas financeiras para as organizações.”
A NR1 não é apenas uma obrigação legal, é uma mudança de mentalidade.
Ao colocar a saúde, segurança e bem-estar no centro das estratégias empresariais, a norma nos convida a repensar como as organizações se relacionam com seus colaboradores.
Mais do que nunca, as empresas têm a chance de liderar essa transformação, reconhecendo que cuidar das pessoas é cuidar do negócio. Afinal, colaboradores saudáveis, engajados e seguros são a base para qualquer organização que busca crescer de forma sustentável.
Se a sua empresa ainda está começando essa jornada, agora é a hora de agir. A NR1 é o ponto de partida para criar um ambiente de trabalho que reflete os valores de cuidado, responsabilidade e inovação — não só para atender à lei, mas para construir o futuro do trabalho.