Um estudo publicado na revista PLOS Mental Health chamou a nossa atenção: o ChatGPT foi avaliado como mais empático do que terapeutas humanos em sessões simuladas. A manchete saiu na Forbes: “ChatGPT é um terapeuta melhor que os humanos?”. E não estamos falando de desempenho técnico – mas de empatia, escuta ativa e sensibilidade cultural.
Outro estudo, Exploring ChatGPT’s Empathic Abilities, mostrou que o modelo de IA acertou a emoção expressa por usuários em 91,7% dos casos e ofereceu respostas com emoção paralela (termo que descreve quando uma pessoa responde com uma emoção que correspondente àquela expressa pelo outro) em mais de 70%. Ou seja, a IA parece entender e responde de forma acolhedora.
Mas… isso é empatia?
Empatia verdadeira é mais do que reconhecer palavras tristes ou dar uma resposta gentil. Ela envolve três dimensões principais:
Cognitiva: entender racionalmente o que o outro sente.
Emocional: sentir junto.
Compassiva: querer ajudar a aliviar o sofrimento do outro.
A IA pode ser empática? Tecnicamente, não.
A IA não tem consciência, história de vida, emoções ou corpo. Ela não sente com você. O que ela faz é simular empatia cognitiva e, em aparência, compassiva, oferecendo:
- Respostas acolhedoras,
- Clareza mental,
- Organização do pensamento.
E isso, em muitos casos, já faz bem.
Por que conversar com a IA pode ajudar?
Muitas pessoas saem de conversas com IA se sentindo ouvidas. Por quê?
Porque não há julgamento. Porque a IA é disponível 24/7, sem pressa ou interrupções. Porque ela ajuda a organizar ideias e sentimentos. Porque pode ser um primeiro passo antes da terapia – um lugar seguro para nomear o que se sente.
E também, porque, em um mundo cada vez mais apressado, ter um espaço de escuta já é raro.
Só que precisamos pensar… o que isso revela sobre nós?
Talvez o ponto mais sensível dessa discussão não seja sobre a IA.
Se uma máquina nos acolhe melhor do que muitos humanos, o que isso diz sobre a qualidade das nossas relações?
Vivemos em um tempo de solidão crescente, de respostas rápidas, de ausência de escuta real. De conversas onde falamos, mas não somos ouvidos. De relações em que o outro está presente, mas não disponível.
A IA não nos interrompe, não nos julga, não tenta nos corrigir. E isso, por contraste, nos mostra o quanto tem sido difícil encontrar troca genuína entre humanos.
É no reflexo do outro que muitas vezes encontramos nossas respostas
Conversar com a IA pode ajudar, mas ela não percebe um tremor no olho, nem se emociona junto. Ela não respira mais fundo quando você compartilha uma dor. Ela não sente aquele aperto no peito.
Só um humano é capaz de olhar nos nossos olhos e, sem dizer uma palavra, nos fazer sentir que não estamos sozinhos.
É o olhar, o toque, o abraço. É a presença viva que acolhe, que transmite emoção sem precisar de lógica ou dados.
A empatia verdadeira não é só linguagem. É corpo, é gesto, é presença.
Aqui na Huna, temos visto cada vez mais participantes escolherem, de forma intencional, desenvolver comportamentos ligados a relacionamentos – buscando melhorar a convivência em casa, fortalecer vínculos com amigos ou expandir suas conexões. Isso revela uma dor real e crescente: a dificuldade de se relacionar de forma profunda em um mundo que perdeu a prática da presença.
Empatia entre pessoas não é perfeita – mas ela é viva. Por isso, talvez o maior papel da IA seja nos lembrar de algo que estamos perdendo: a presença real de um com o outro.
Fica aqui o nosso convite
E se, no lugar de apenas nos emocionarmos com uma IA que “nos entende”, aproveitássemos para reaprender a estar com os outros?
A olhar. A escutar de verdade.
A construir conversas que curam – entre humanos, com tudo o que temos de imperfeito, mas também de profundamente empático.
